Enquanto o poder público de Vitória da Conquista celebra a inauguração da nova Unidade de Saúde do Ibirapuera — moderna, ampla e equipada para atender cerca de 7 mil pessoas com duas equipes de Saúde da Família — uma pergunta ecoa entre os moradores do Miro Cairo:
até quando os bairros mais vulneráveis continuarão sendo esquecidos?
O contraste entre o investimento e a necessidade
Há 12 anos, a comunidade do Miro Cairo pede a ampliação e requalificação de seu posto de saúde.
Hoje, a unidade conta com apenas duas equipes para atender mais de 25 mil pessoas, número que cresce a cada novo conjunto habitacional e condomínio entregue.
Segundo uma liderança comunitária que atua na saúde pública local:
“O Miro Cairo cresceu demais. São mais de seis mil famílias do Minha Casa Minha Vida, além de invasões e áreas muito carentes. Temos pessoas morando em barracos de lona, catadores, famílias sem renda e sem saneamento. Mesmo assim, o posto continua o mesmo, atendendo milhares de pessoas.”
Esse cenário revela a desigualdade estrutural na forma como os recursos públicos são distribuídos.
O princípio da equidade, que deveria guiar as políticas do Sistema Único de Saúde (SUS), não tem sido respeitado.
Quando a política fala mais alto que a justiça social
Enquanto bairros de classe média recebem novas estruturas e equipamentos modernos, outros — como o Miro Cairo — seguem esquecidos.
Muitas dessas obras são financiadas por emendas parlamentares.
A liderança local resume o sentimento da comunidade:
“A gente não diz que o povo do Ibirapuera não merece. Todo mundo merece saúde de qualidade. Mas se for olhar pela vulnerabilidade e pelo número de pessoas, o Miro Cairo deveria estar no topo da lista. Aqui o povo luta e parece que nunca sai do lugar.”
Portanto, é necessário repensar as prioridades da gestão.
A saúde pública não deve ser vitrine política, e sim um direito garantido com base na necessidade real da população.
Mais equidade, menos marketing político
O caso do Miro Cairo é um exemplo claro de falha na prioridade.
Enquanto bairros com menor vulnerabilidade são contemplados, comunidades inteiras seguem sem estrutura adequada.

