A tensão internacional ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (15), quando o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, declarou que países como Brasil, Índia e China poderão enfrentar sanções econômicas severas caso a Rússia não avance em negociações de paz com a Ucrânia nos próximos 50 dias. A fala ocorreu durante visita de Rutte aos Estados Unidos, onde ele se reuniu com o presidente Donald Trump e congressistas americanos.
Segundo Rutte, as sanções fariam parte de uma estratégia de “pressão máxima” contra o governo de Vladimir Putin. Por isso, a possível aplicação de tarifas de até 100% sobre exportações destes países seria uma forma de desestimular o comércio com a Rússia e isolar Moscou economicamente.
“Você pode querer dar uma olhada nisso, porque pode te atingir muito forte. Então, por favor, ligue para Putin e diga a ele que ele precisa levar a sério os acordos de paz”, declarou Rutte, dirigindo-se aos governos de Brasil, Índia e China.
OTAN e a Guerra na Ucrânia: um cerco político e econômico
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é uma aliança militar formada por 32 países, criada em 1949 para garantir a defesa coletiva dos seus membros. Qualquer ataque a um dos integrantes é tratado como um ataque a todos. Além disso, embora não tenha um exército próprio, a OTAN mobiliza forças armadas dos países membros para suas operações.
Ao longo da guerra na Ucrânia, a aliança tem sido um dos principais pilares de apoio ao governo de Volodymyr Zelensky, tanto com armamentos quanto com suporte estratégico. Portanto, a nova abordagem de pressionar aliados comerciais da Rússia marca uma mudança significativa de tom, principalmente vinda dos Estados Unidos sob a liderança de Trump.
Brasil entre pressões externas e crise interna
O Brasil, ao lado de China e Índia, é membro fundador do BRICS, bloco econômico que tem mantido laços comerciais estreitos com a Rússia. No entanto, essa relação pode se tornar um problema.
Enquanto isso, além da nova ameaça de sanções da OTAN, o governo brasileiro já enfrenta atritos com os EUA. No início de julho, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em mais um movimento protecionista que afeta diretamente a economia nacional. Consequentemente, a ameaça de sanções secundárias amplia ainda mais os riscos para o país.
Internamente, o governo brasileiro atravessa um momento delicado, com instabilidade política e crescente pressão sobre sua base de apoio. Assim, a crise externa pode agravar o cenário doméstico, com impactos diretos nas exportações, na inflação e na relação com investidores internacionais.
O que está em jogo?
A fala de Rutte não é apenas uma advertência: é um sinal claro de que a guerra na Ucrânia está se tornando um teste geopolítico para potências emergentes. Por outro lado, a possível imposição de sanções contra o Brasil reforça a necessidade de uma diplomacia estratégica, capaz de equilibrar interesses comerciais com os riscos de isolamento no cenário internacional.
Com um prazo de 50 dias imposto por Trump para que a Rússia negocie a paz, o relógio diplomático começou a correr — e países como o Brasil terão que decidir com cautela seus próximos passos.
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