Um médico cubano alegou ter cumprido suas obrigações em missões internacionais, mas afirmou que não recebia integralmente o valor devido. Segundo ele, os pagamentos eram retidos ou desviados pelo governo de Cuba. Esse cenário se repete em vários casos documentados e, por isso, merece uma análise mais profunda.
Contexto global das missões médicas cubanas
Retenção de salários
Investigações demonstram que governos estrangeiros pagam integralmente cada colaborador cubano enviado em missões médicas. No entanto, os profissionais recebiam apenas uma fração desse valor.
Nas Bahamas, por exemplo, o país pagava até US$ 12.000 mensais por profissional. Mesmo assim, os médicos recebiam apenas entre US$ 990 e US$ 1.200. O restante, equivalente a 83,9% até 91,6%, ficava com o governo cubano. Além disso, mesmo quando os depósitos eram feitos diretamente pelo país hospedeiro, os médicos precisavam transferir quase tudo para contas controladas pelo Estado cubano.
Em 2020, a ONU expressou preocupação ao constatar que os médicos entregavam de 75% a 90% dos salários ao governo de Cuba. Essa prática, segundo o relatório, violava a dignidade dos profissionais de saúde.
No Brasil, durante o programa Mais Médicos, estimativas apontavam que Cuba recebia até 75% do salário pago pelos governos locais. Já em Portugal, os médicos cubanos recebiam apenas 10% a 20% do que o país pagava — cerca de 4.000 euros — enquanto profissionais portugueses ganhavam quantias muito superiores.
Casos documentados de denúncias específicas
O médico Julio Ernesto Pineda Hinojosa relatou que recebeu apenas R$ 1.200 durante sua missão no Brasil. O restante ficava retido pelo governo de Cuba. Após o fim do contrato, decidiu permanecer no Brasil. No entanto, ele não pôde retornar à Ilha porque temia represálias, como a proibição de voltar por até oito anos devido às suas denúncias.
Outro caso ocorreu em Santiago de Cuba. Um especialista afirmou que um aumento salarial prometido desde janeiro de 2025 ainda não havia sido pago até junho. Ele calculava um débito superior a 25.000 pesos. O governo alegava falta de recursos e justificava o atraso como consequência de demoras no orçamento.
Verificação da identidade do denunciante
Até o momento, não encontramos registros públicos contra o nome do médico que afirmou não receber o salário integral. É possível que ele tenha preferido manter o anonimato para evitar retaliações, prática comum em diversos relatos.
Existem casos semelhantes, como o de Julio Pineda Hinojosa. Contudo, nenhum deles confirma exatamente o mesmo nome ou circunstância do profissional citado.
A denúncia de que médicos cubanos não recebem integralmente pelos serviços prestados é consistente com múltiplas investigações internacionais. Relatórios da ONU e matérias de veículos como BBC e CiberCuba reforçam essa prática como uma forma de exploração laboral.
Embora o nome exato do denunciante não tenha sido confirmado, o relato simboliza dezenas de outros médicos que preferem falar de forma anônima por medo de retaliações. Mais do que uma questão econômica, trata-se de um problema ético e humano, que afeta diretamente a dignidade desses profissionais.