Na edição desta segunda-feira (21) do programa Bom Dia Cidade, da Rádio Câmara 90.3 FM, a convidada foi Mickelle Xavier. Ela é pedagoga, conselheira tutelar e idealizadora da Biblioteca Comunitária Miro Cairo e do Centro de Educação e Cultura Ernertina Maria Souza (CECEMS). A entrevista abordou as origens, os desafios e as ações desenvolvidas pelas iniciativas localizadas na zona oeste de Vitória da Conquista, com foco na educação popular e na valorização da cultura periférica.
Uma biblioteca que nasceu da prática pedagógica
A Biblioteca Miro Cairo surgiu em 2018, durante o estágio de Mickelle como estudante de Pedagogia na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Moradora do Residencial Jacarandá – um dos seis conjuntos do programa Minha Casa Minha Vida no bairro Miro Cairo – ela identificou a necessidade de um espaço de leitura e apoio pedagógico para crianças e adolescentes da comunidade.
Inicialmente, o projeto começou na garagem da própria casa da idealizadora. No entanto, com o tempo e o crescimento da demanda, passou a ocupar um espaço alugado, mantido por recursos próprios e por doações.

CECEMS: ampliando o impacto comunitário
Com o aumento das atividades, surgiu o Centro de Educação e Cultura Ernertina Maria Souza (CECEMS), em homenagem à avó de Mickelle. A escolha do nome representa a valorização da ancestralidade e das referências familiares presentes no território.
Mais do que uma biblioteca, o espaço se tornou um verdadeiro centro de transformação social. Ele oferece reforço escolar, clubes de leitura, ações culturais, rodas de conversa sobre temas sociais e até mesmo um cursinho preparatório para o Instituto Federal da Bahia (IFBA).
Em 2024, por exemplo, dez alunos do projeto foram aprovados no processo seletivo do IFBA. “A ideia é fazer com que os jovens enxerguem o IFBA como um espaço acessível e possível”, afirmou Mickelle durante a entrevista.
Projetos voltados à educação, autoestima e cidadania
Entre os projetos em destaque estão:
- “Nós: Não Estamos Sós!” – voltado ao apoio ludo-pedagógico para crianças com defasagens escolares.
- “Papo de Meninas” – promove discussões sobre autoestima, saúde mental e violência doméstica, com foco no fortalecimento de vínculos.
- “De Quebrada pra Quebrada” – incentiva o diálogo entre jovens de diferentes bairros, abordando vivências e direitos sociais.
Essas iniciativas não apenas promovem a educação, como também fortalecem o senso de pertencimento e a identidade comunitária.

Sustentabilidade e desafios para o futuro
A manutenção das atividades ainda depende, em grande medida, de doações da sociedade civil e da participação em editais de fomento. Apesar das dificuldades, o projeto já foi reconhecido como Ponto de Leitura e Ponto de Cultura por programas do governo federal.
“Hoje temos caixa até dezembro. Depois disso, precisamos continuar buscando apoio para manter as atividades”, explicou Mickelle.

Atuação como conselheira tutelar e trajetória ativista
Além de sua atuação nos projetos comunitários, Mickelle falou sobre seu trabalho como conselheira tutelar, iniciado em 2024. Ela destacou a importância da escuta ativa no atendimento a famílias em situação de vulnerabilidade. Para ela, sua vivência na comunidade contribui diretamente para o trabalho de proteção aos direitos das crianças e adolescentes.
Natural de Vitória da Conquista, Mickelle é graduada em Pedagogia pela UFBA e tem especialização em Gênero e Sexualidade na Educação. Atualmente, também é conselheira municipal de cultura (biênio 2023-2025) e membro da Rede Internacional de Pedagogia Feminista Negra. Sua trajetória está profundamente ligada à militância por direitos da juventude quilombola e à promoção da educação popular.
