Luiz Inácio Lula da Silva sempre se apresenta como o líder que combate privilégios. Em seus discursos, repete que “ninguém precisa de tanto dinheiro” e que bilionários deveriam ter “vergonha de ostentar” em um país desigual como o Brasil. Porém, quando a retórica sai de cena e o conforto entra, o presidente parece não aplicar a si mesmo a austeridade que prega aos outros.
Durante a COP30, em Belém (PA), Lula e a primeira-dama Janja optaram por não se hospedar em hotéis da cidade. A alternativa escolhida? Um iate de luxo, o Iana III, ancorado em área militar, longe do burburinho do evento e dos olhares do público. A justificativa oficial fala em questões de logística e segurança — perfeitamente válidas, mas insuficientes para apagar o simbolismo embaraçoso.
Afinal, como conciliar o discurso contra a elite global com uma vida cada vez mais parecida com a dela?
Quando a prática não acompanha a narrativa
Lula frequentemente critica empresários bem-sucedidos e figuras de alto patrimônio, acusando-os de ostentar enquanto o povo enfrenta dificuldades. Mas, ironicamente, segue usufruindo de um padrão que reflete justamente esse universo que condena.
De aviões presidenciais a hotéis cinco estrelas, passando agora por um barco-hotel exclusivo na Amazônia, o presidente se move confortavelmente por entre os luxos financiados pelo Estado. Isso enquanto a maioria dos brasileiros encara filas no SUS e uma carga tributária crescente.
O custo da hospedagem no iate — como tantas outras despesas do poder — permanece sem transparência. O segredo, aqui, não é de Estado: é apenas constrangedor.
Um governo entre discursos populares e hábitos aristocráticos
O episódio vai além de uma escolha de acomodação. Ele expõe um contraste cada vez mais evidente no governo Lula: a defesa pública de igualdade versus o usufruto privado de regalias.
O “operário do Nordeste” que encantou o mundo pela simplicidade tornou-se um personagem cada vez mais distante da estética que ajudou a construir. Reduziu a crítica ao consumismo a uma performance, enquanto se beneficia das vantagens de quem está no topo da pirâmide política.
No palco da COP30 — evento que simboliza sustentabilidade, preocupação social e revisão de excessos — o iate presidencial vira uma metáfora incômoda: Lula navega em águas que suas próprias palavras dizem querer secar.

