Em 9 de setembro de 2025, o primeiro-ministro do Nepal, Khadga Prasad Sharma Oli, renunciou ao cargo. A decisão foi entregue ao presidente Ram Chandra Poudel. O gesto ocorreu após o episódio mais violento da política nepalesa nas últimas décadas.
O estopim: redes sociais e indignação juvenil
A crise começou quando o governo decidiu banir plataformas como Facebook, Instagram, WhatsApp, X e YouTube. A justificativa foi a falta de registro legal dessas empresas no Nepal. No entanto, críticos acusaram a medida de ataque direto à liberdade de expressão.
A reação popular foi imediata. Jovens lideraram os protestos, conhecidos como mobilizações da “Geração Z”. O termo “nepo kids” viralizou, denunciando os filhos da elite política que ostentavam luxo enquanto a juventude enfrentava desemprego e falta de oportunidades.
Violência e destruição
Os protestos tomaram as ruas de Kathmandu e de outras cidades. Embora o governo tenha recuado e suspenso o banimento das redes sociais, a população não se acalmou. Pelo contrário, as manifestações cresceram e se transformaram em críticas ao sistema político como um todo.
O resultado foi trágico: 19 mortos e mais de 100 feridos. O ministro do Interior, Ramesh Lekhak, assumiu responsabilidade moral e renunciou em 8 de setembro. No dia seguinte, Oli fez o mesmo.
Manifestantes incendiaram o Parlamento (Singha Durbar), prédios do governo e até residências de autoridades, incluindo a do premiê. Dessa forma, a crise política se aprofundou e abriu espaço para novas disputas internas.
O legado de Oli
K.P. Sharma Oli era um veterano da política nepalesa. Foi líder revolucionário contra a monarquia e governou o país em quatro mandatos diferentes. Sua última gestão começou em julho de 2024.
Apesar de ter prometido combater a pobreza e a corrupção, Oli deixou o poder cercado de polêmicas. Seu governo também ficou marcado por tensões diplomáticas com Índia e China, além de promessas não cumpridas em relação ao desenvolvimento interno.
Reflexo regional
Os protestos no Nepal não são um caso isolado. Países vizinhos, como Sri Lanka e Bangladesh, também viveram revoltas juvenis recentes. Em todos eles, a pauta principal foi a mesma: corrupção, desemprego e falta de perspectivas.
Assim, a “Geração Z” nepalesa se consolidou como nova força política. Ela exige mais inclusão, transparência e oportunidades, num país que sofre com desemprego de jovens em torno de 20% e forte migração de mão de obra.