A poucos meses de completar 80 anos, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu afirmou à BBC News Brasil que está se preparando para uma nova campanha eleitoral e o lançamento do segundo volume de sua autobiografia. Ele pretende concorrer pela quarta vez a deputado federal por São Paulo, a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dirceu disse que a candidatura será uma forma de buscar justiça e “reparação” após ter cumprido prisões que considera injustas nos casos do mensalão e da Operação Lava Jato.
Bolsonaro e a prisão domiciliar
O ex-ministro afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado por tentativa de golpe e em prisão domiciliar, não teria condições de cumprir pena em regime comum. Dirceu justificou a posição alegando instabilidade emocional e problemas de saúde de Bolsonaro, e comparou o caso ao do ex-presidente Fernando Collor, que cumpre pena em casa.
“Não vejo como ele poderia entrar no sistema penitenciário. Seria, de qualquer maneira, uma prisão especial”, afirmou. Dirceu disse ainda que não deseja mal a ninguém e destacou que mesmo ele, com experiência em prisões, reconhece o risco psicológico do encarceramento.
Reflexões sobre a política e o PT
Pragmático, Dirceu comentou sobre a relação de décadas com Lula, com quem disse manter contato quase “por telepatia”, e avaliou a atuação de aliados e adversários. Sobre o centrão, defendeu que a base parlamentar do governo Lula é composta por partidos de centro-direita e que as alianças foram determinadas pelo eleitorado.
O ex-ministro também criticou o sistema penitenciário e as condições de encarceramento no Brasil, comparando sua experiência à situação de outros condenados. Ele afirmou que, durante suas prisões, precisou lutar por melhores condições, enquanto dividia cela com figuras como Valdemar Costa Neto.
Nova classe trabalhadora e reformas
Dirceu destacou que a juventude e os trabalhadores de aplicativos estão promovendo uma “rebelião silenciosa”, exigindo mudanças nas relações e jornadas de trabalho. Segundo ele, a pressão por reformas tributária e trabalhista reflete a necessidade de combater a concentração de renda e melhorar a produtividade.
“Não é por causa do Bolsa Família que está faltando mão de obra, é por causa da qualificação e das condições de trabalho e do salário”, disse.
Memórias e trajetória política
O ex-ministro revelou que lançará em breve o segundo volume de suas memórias, abordando sua saída do governo e os anos posteriores, incluindo o período da Lava Jato. Dirceu reafirmou que não houve corrupção em sua atuação no mensalão e que pedirá revisão criminal da condenação.
Questionado sobre delações premiadas, disse que jamais faria, por princípios, mesmo após o caso de Antônio Palocci, com quem teve forte vínculo pessoal.
Candidatura e futuro político
Dirceu enfatizou que sua candidatura será pautada por justiça e por continuidade da luta política, e não apenas por renovação geracional, citando que seu filho representa a renovação no PT. Ele também comentou sobre a importância estratégica de São Paulo na disputa presidencial, defendendo uma chapa Lula-Alckmin.