O caso de Vinicius David de Souza Castro Gomes, morto por policiais em São José dos Campos em 2021, escancara uma ferida dupla.
De um lado, a violência de uma abordagem que terminou com um homem rendido, de mãos para o alto, sendo executado a tiros. De outro, a constatação de que ele havia acabado de participar de um assalto.
O Estado foi condenado a pagar R$ 900 mil de indenização à família, mas a decisão levanta um debate incômodo:
o que acontece quando o sistema de segurança e o sistema de justiça parecem falhar, cada um à sua maneira?
De um lado, há policiais exaustos, que se veem repetindo prisões de pessoas que voltam às ruas poucos dias depois. De outro, cidadãos que convivem diariamente com a sensação de abandono e medo. Nesse ambiente de frustração e descrédito, nasce a tentação do “justiçamento” — um terreno perigoso onde a lei perde espaço para o impulso.
Nada disso torna legítima a execução de alguém rendido.
Mas também não dá para ignorar o cenário de impunidade e desgaste institucional que corrói a confiança entre sociedade, polícia e Justiça.
Cada um desses elos falha um pouco — e, juntos, acabam produzindo tragédias como a de Vinicius.
O resultado é perverso: um morto, policiais respondendo na Justiça, e um Estado que paga caro por não conseguir impedir que a violência aconteça — nem de um lado, nem do outro.


