As declarações de Luiz Inácio Lula da Silva sobre Donald Trump, antes e depois da vitória do republicano nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, revelam um nítido duplo padrão que merece análise. Durante a campanha eleitoral norte-americana, Lula foi enfático em sua oposição a Trump, associando-o ao enfraquecimento da democracia e ao ressurgimento de ideologias autoritárias. No entanto, após a posse de Trump, o tom mudou drasticamente para um discurso conciliador e de parceria.
Antes: Críticas Severas e Alarmismo
Durante a campanha presidencial dos EUA, Lula não poupou críticas a Donald Trump. Em entrevista ao canal francês TF1, ele afirmou que a reeleição de Trump seria um retrocesso para a democracia, classificando os acontecimentos do ataque ao Capitólio como “impensáveis” e associando-os ao retorno do fascismo e do nazismo “com outra cara”. Além disso, Lula declarou publicamente sua torcida por Kamala Harris, candidata democrata, como uma alternativa mais segura para o fortalecimento da democracia americana.
Frases como “o ódio destilado todo santo dia” e “o fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara” reforçaram sua visão negativa sobre Trump e sua administração.

Depois: Uma Mudança de Tom
Com a vitória de Trump e sua posse em janeiro, Lula adotou um discurso totalmente diferente durante a primeira reunião ministerial do ano, que coincidiu com o dia da posse do republicano. O presidente brasileiro desejou uma “gestão profícua” a Trump e destacou a importância de manter os americanos como “parceiros históricos” do Brasil. Lula, que antes pintava um cenário apocalíptico, afirmou não querer “briga nem com a Venezuela, nem com os americanos, nem com a China”.
Essa mudança da crítica severa para a diplomacia pode ser explicada por diversos fatores, como a necessidade de preservar relações comerciais e políticas com os Estados Unidos, mas evidencia um duplo padrão em seu posicionamento.
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Reflexão: Pragmatismo ou Contradição?
O duplo padrão de Lula levanta questões sobre a coerência de seus discursos. A mudança de tom pode ser vista como pragmatismo político, um esforço para evitar atritos desnecessários com uma potência global. No entanto, para muitos, essa guinada abrupta é uma contradição clara, especialmente considerando a gravidade das acusações feitas contra Trump durante a campanha.
Se, por um lado, é natural que líderes ajustem seus discursos para manter boas relações internacionais, por outro, discursos polarizadores e críticas duras perdem credibilidade quando seguidos de acenos diplomáticos tão rápidos. Lula, que frequentemente critica o oportunismo político de outros, acaba caindo em uma armadilha semelhante ao suavizar suas críticas após o resultado eleitoral.
Esse episódio nos leva a refletir sobre a consistência das lideranças políticas em um mundo onde discursos e ações estão sempre sob escrutínio. Afinal, o que prevalece: os princípios ou as conveniências?