Na sexta-feira (10), durante o programa #Estúdioi, o economista Daniel Sousa chamou atenção para o que classificou como o “silêncio” do Itamaraty diante da recente premiação de María Corina Machado, líder da oposição venezuelana, com o Nobel da Paz. O reconhecimento internacional, que reacende o debate sobre democracia na América do Sul, expõe uma postura discreta do governo brasileiro — algo incomum em temas de política externa.
“O Itamaraty, que é sempre tão opinativo em questões diversas ao redor do mundo, em Israel, na Ucrânia, etc., hoje está em silêncio”, afirmou Daniel.
“…mas manter portas de diálogo abertas também não pode impedir que o Brasil reconheça que existe uma ditadura aqui do lado e que María Corina Machado é uma liderança importante na luta contra essa ditadura.”
De fato, segundo veículos de imprensa, o governo brasileiro preferiu não se manifestar oficialmente sobre o prêmio. Em contraste, o Itamaraty já havia comentado prêmios e acontecimentos políticos em outras partes do mundo, como no Oriente Médio e na Europa. Dessa vez, no entanto, optou por uma postura neutra — o que causou estranhamento em analistas e diplomatas.
Por que o Nobel para María Corina Machado?
O Comitê Nobel justificou a escolha destacando que o prêmio é concedido a pessoas que promovem a paz e os direitos humanos de forma pacífica. No caso de María Corina Machado, três fatores foram fundamentais:
- Ela vem atuando como ponto de união da oposição venezuelana, buscando superar divisões internas.
- Sua resistência à repressão e à militarização do Estado foi reconhecida como símbolo de coragem democrática.
- Além disso, Machado defende uma transição política não violenta, mesmo diante das perseguições impostas pelo regime.
Com isso, o prêmio envia uma mensagem clara: a comunidade internacional valoriza esforços pacíficos em defesa da democracia — especialmente quando partem de países sob regimes autoritários.
O dilema diplomático do Brasil
O Brasil historicamente procura manter o diálogo com todos os seus vizinhos, inclusive com governos considerados autoritários. No entanto, quando o país evita comentar um prêmio de tamanha relevância, a coerência dessa política externa é colocada à prova.
Por um lado, o silêncio pode ser interpretado como prudência diplomática. Por outro, transmite a impressão de alinhamento tácito com o regime de Nicolás Maduro, o que compromete a imagem de imparcialidade brasileira. Além disso, levanta uma série de questionamentos:
- Até que ponto o diálogo justifica a omissão diante de violações democráticas?
- Será que a busca por neutralidade não enfraquece o papel do Brasil como referência regional em direitos humanos?
- O que o país perde ao não reconhecer publicamente figuras de resistência pacífica como Machado?
Enquanto o governo tenta equilibrar princípios e pragmatismo, cresce a percepção de que o Itamaraty fala menos quando o tema envolve aliados políticos. Isso afeta, inclusive, a credibilidade brasileira em organismos internacionais.
Conclusão
A entrega do Nobel da Paz a María Corina Machado trouxe à tona uma questão essencial: o Brasil ainda consegue ser voz ativa em defesa da democracia? O silêncio diante da ditadura venezuelana mostra que, às vezes, a neutralidade pode soar como indiferença.
Em tempos em que o mundo valoriza a coragem de quem enfrenta regimes opressivos, o Brasil tem diante de si uma escolha — continuar calado ou reafirmar, com clareza, o seu compromisso com a liberdade e os direitos humanos.