Recentemente, uma fala atribuída ao deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) circulou nas redes sociais, gerando polêmica:
“O STF gasta mais do que a Família Real Britânica em dinheiro público! E eles acabaram de declarar que não vão cortar gastos de jeito nenhum!”
A comparação é provocativa — e foi feita também por outros políticos e comentaristas nos últimos meses. Mas será que ela faz sentido? E o que dizem os números oficiais?
Vamos aos fatos.
O que dizem os números
Segundo levantamento do Poder360, o Supremo Tribunal Federal (STF) custou R$ 897,6 milhões em 2024, enquanto os gastos da Família Real Britânica chegaram a R$ 645,1 milhões (valor convertido para reais).
Isso significa que o STF gastou cerca de 39% a mais do que a realeza britânica no mesmo período.
Esses dados ganharam destaque em reportagens da Gazeta do Povo e de outros veículos, e foram usados por parlamentares como argumento para criticar o tamanho e os custos do Judiciário brasileiro.
Onde está esse dinheiro?
Do total gasto pelo STF:
- 59% são despesas com pessoal ativo — ou seja, salários e benefícios de ministros, assessores e servidores.
- O restante cobre custos administrativos, segurança, infraestrutura, sistemas de informática, manutenção predial e apoio aos julgamentos.
O tribunal conta com cerca de 1.200 servidores para atender 11 ministros.
Já a Família Real britânica tem um quadro de aproximadamente 1.133 funcionários — números curiosamente parecidos.
Para 2025, o orçamento aprovado do STF é de R$ 953,9 milhões, sendo R$ 895 milhões destinados a custeio e R$ 59 milhões a contribuições previdenciárias.
Comparar o STF com a Família Real é justo?
Nem tanto. Apesar de o número impressionar, especialistas lembram que as funções das duas instituições são completamente diferentes.
O STF é o órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro, responsável por julgar questões constitucionais, garantir direitos fundamentais e fiscalizar os outros poderes.
A Família Real Britânica, por sua vez, exerce funções cerimoniais e representativas, sem poder político ou deveres jurídicos.
Além disso, os custos do STF envolvem despesas obrigatórias determinadas por lei — como salários, previdência e segurança institucional. Já os custos da monarquia incluem manutenção de palácios, viagens oficiais e eventos públicos.
Outro ponto importante: a comparação usa valores convertidos em reais, o que pode variar muito conforme a taxa de câmbio. Um aumento ou queda da libra esterlina pode distorcer a equivalência.
“Não vão cortar gastos de jeito nenhum”: fato ou retórica?
A parte mais polêmica da frase — “eles acabaram de declarar que não vão cortar gastos” — não foi confirmada por nenhuma fonte oficial.
Não há registro público de o STF ter feito uma declaração formal nesse sentido. O tribunal já defendeu que seus custos seguem “necessidades institucionais”, mas nunca afirmou que “não cortará gastos de jeito nenhum”.
Provavelmente, trata-se de uma interpretação política ou hipérbole retórica, comum em debates sobre orçamento público e privilégios no serviço público.
O que essa discussão revela
Independentemente da comparação, a fala reacende um tema importante: os gastos do Poder Judiciário e a necessidade de transparência no uso do dinheiro público.
Enquanto o STF argumenta que seus custos são proporcionais à sua função e estrutura, críticos — como o deputado Sóstenes Cavalcante — veem nisso um símbolo de excesso e desconexão com a realidade econômica do país.
A verdade pode estar em algum ponto entre os dois extremos: o STF cumpre papel essencial, mas há espaço para discutir eficiência, contenção de despesas e revisão de benefícios.
Conclusão
A frase “o STF gasta mais do que a Família Real Britânica” é verdadeira nos números, mas enganosa no contexto.
O custo do Supremo realmente supera o da monarquia britânica, mas as funções e responsabilidades são incomparáveis.
Já a segunda parte da fala — de que “não vão cortar gastos de jeito nenhum” — parece ser uma opinião política, não uma declaração oficial do tribunal.
No fim das contas, a discussão sobre gastos públicos no Judiciário é legítima — e necessária —, desde que feita com base em dados reais e comparações justas.