O Brasil convive com um dado alarmante: 94 milhões de pessoas entre 15 e 64 anos estão inscritas no Cadastro Único (CadÚnico), banco de dados que reúne famílias em situação de vulnerabilidade e dá acesso a programas como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Isso representa 44% da população brasileira, ou seja, quase metade do país.
Para dimensionar melhor, esse número equivale à população de um dos 15 países mais populosos do mundo, como o Egito. A informação foi revelada em reportagem da Veja e reforçada por dados recentes divulgados em setembro de 2025.
O retrato da dependência social no Brasil
Dos inscritos no CadÚnico, 57% recebem o Bolsa Família. Atualmente, cerca de 20,7 milhões de famílias são beneficiadas, alcançando 54,5 milhões de pessoas. Além disso, o investimento mensal passa de R$ 14 bilhões, com benefício médio de R$ 684 por família.
Outro programa importante é o BPC, que paga um salário mínimo a idosos e pessoas com deficiência em situação de vulnerabilidade. Assim, hoje já são aproximadamente 6 milhões de beneficiários, com previsão de gastos acima de R$ 113 bilhões em 2025.
O outro lado: empregos precários e desigualdade regional
Entretanto, os desafios permanecem. Muitos beneficiários que conseguem entrar no mercado formal continuam presos a empregos de baixa remuneração. Em 2024, por exemplo, o salário médio de admissão foi de R$ 2.161,37, valor insuficiente para garantir autonomia financeira em famílias numerosas.
Além disso, a dependência é mais intensa no Nordeste e no Norte, regiões historicamente marcadas por desigualdade estrutural. Nessas áreas, a falta de infraestrutura, educação de qualidade e oportunidades de trabalho perpetuam o ciclo de vulnerabilidade.
Assistencialismo ou inclusão?
O debate sobre programas sociais costuma oscilar entre críticas ao “assistencialismo” e a defesa de políticas de transferência de renda como ferramenta essencial de inclusão. Por outro lado, há quem argumente que sem políticas estruturais complementares, a dependência tende a se perpetuar.
Em resumo, a verdade é que os programas sociais salvam milhões da miséria, mas ainda não conseguem, sozinhos, promover autonomia econômica em grande escala.
O Brasil vive uma contradição. Por um lado, os programas sociais retiram milhões da miséria. Por outro, eles também revelam que quase metade do país não consegue viver sem auxílio governamental.
Em suma, o verdadeiro desafio está em transformar dependência em autonomia, garantindo que os 94 milhões de brasileiros atendidos pelo CadÚnico tenham a chance de construir um futuro melhor.