No início de julho de 2025, o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) subiu à tribuna do Senado com a voz embargada, mas determinada. Em seu discurso, ele revelou mágoa, indignação e um sentimento de profunda traição por parte do governo que ajudou a eleger.
“Presidente Lula, esse não é o Lula que eu conheci em 1989”, afirmou, relembrando os tempos em que arriscou sua carreira para defender o petista.
De parceiro de palanque a voz ignorada
No discurso, Kajuru narrou que, há um ano, o próprio Lula o chamou, diante de Jaques Wagner e Rui Costa, e prometeu apoio direto em Goiás. A proposta de reativar a linha do trem entre Luziânia (GO) e Brasília foi, segundo ele, uma demanda feita em conjunto com a senadora Leila do Vôlei (PDT-DF). Contudo, ao ver o projeto anunciado sem qualquer menção ao seu nome, o senador decidiu tornar público o que já sentia há meses.
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Além disso, Kajuru destacou que, desde então, o presidente não atendeu nenhum de seus pedidos de audiência. Enquanto isso, opositores declarados ao governo aparecem em vídeos e eventos como se fossem os responsáveis pela obra.
“Esses que chamam o presidente de ladrão todo dia agora aparecem como pais do projeto”, reclamou, visivelmente frustrado.
Falta de diálogo, promessas descumpridas e ingratidão
Além do caso do trem, Kajuru citou a indiferença de ministros importantes como Rui Costa, que, segundo ele, sequer responde mensagens. Apesar de reconhecer a boa vontade de figuras como Geraldo Alckmin e Alexandre Padilha, o senador afirma que o problema está na postura do presidente.
“Tem um ano que ele nem me atende. Alckmin atende na hora. Ministros como Padilha também. O problema é que Lula se isolou.”
Na avaliação de Kajuru, a condução política do governo tornou-se desastrosa. Ele, que sempre foi conhecido por sua independência e firmeza, declarou não ter paciência com traição ou bajulação. Para ele, manter silêncio diante da ingratidão seria trair a si mesmo.
Crise política se aprofunda no Congresso
A fala de Kajuru, no entanto, não é um caso isolado. Ela representa um sintoma de uma crise política mais ampla que atinge o governo Lula 3. Em junho, o Congresso derrubou o decreto que aumentava o IOF, impondo ao Planalto uma das maiores derrotas legislativas do atual mandato.
Além disso, partidos que integram a base — como PSD, MDB, União Brasil e Republicanos — têm manifestado insatisfação com a falta de diálogo e articulação. Como consequência, cresce o movimento interno que defende o afastamento desses partidos do governo, com a devolução dos ministérios que ocupam.
Portanto, Kajuru apenas verbalizou o que muitos aliados já sentem: o governo perdeu o rumo e está desconectado até mesmo daqueles que o apoiaram desde o início.
Aprovação em queda e base rachada
Do ponto de vista da opinião pública, os sinais também não são animadores. Pesquisas recentes mostram que a desaprovação do governo ultrapassa os 50% em diversas regiões. Paralelamente, Lula enfrenta críticas até mesmo entre parlamentares que, até pouco tempo atrás, defendiam seu projeto com entusiasmo.
Comparações com o segundo mandato de Dilma Rousseff se tornaram frequentes. A diferença é que, desta vez, o colapso da articulação política ocorre mais cedo — e com menos espaço para manobras de recuperação.
Kajuru deu nome ao problema que muitos evitam encarar
Ao abrir o coração no plenário, Jorge Kajuru deu voz ao desconforto crescente dentro da base governista. O senador não falou apenas por si. Ele representou todos os aliados que se sentem ignorados, desprestigiados e trocados por adversários oportunistas.
Nesse sentido, sua fala serve como um termômetro do esgotamento político que atinge o Palácio do Planalto. Se o presidente Lula não agir rapidamente para reconstruir pontes e restaurar a confiança de seus aliados, o governo pode entrar em colapso político antes mesmo das eleições de 2026.